sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Lembranças

Bem à maneira Charlie Kaufman, gostaria de deletar tudo! Ah, se assim fosse possível, e de uma vez por todas, libertarmo-nos de todas as lembranças daqueles que se fizeram amados por nós e nos abandonaram. Daqueles que nos desprezaram sem se darem conta de que nosso amor sincero e gratuito não pode ser encontrado a cada estação de trem.




Então, por que insistir tanto para que essas memórias continuem vivas, se não deseja acrescer a elas mais?!





Mais uma para nós bobos:

"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer."

Clarice Lispector. In: A Paixão Segundo G.H.





terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sobre o Amor


 "Ama-me quando eu menos merecer, pois será quando eu mais preciso!"
E amemos também aos outros em qualquer que seja a circunstância, como nos aconselham o provérbio sueco e o sábio Dickens, porque é de AMOR que este mundo precisa.




“Love her, love her, love her! If she favours you, love her. If she wounds you, ...love her. If she tears your heart to pieces – and as it gets older and stronger, it will tear deeper, – love her, love her, love her!”

Dickens, Charles. In: Great Expectations, New York: Wild Jot Press, 2009, p. 174.


"Amá-la, amá-la, amá-la! Se ela favorece você, amá-la. Se ela fere você, amá-la. Se ela rasga seu coração aos pedaços – e como ele fica mais velho e mais forte, vai rasgar mais profundamente, - amá-la, amá-la, amá-la!"

 




segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Parabéns, Charles Dickens!





"Ninguém pode achar que falhou a sua missão neste mundo, se aliviou o fardo de outra pessoa." C.D.


Charles Dickens soube vivenciar integralmente o que pregava, tanto que alivia o fardo me muita gente ainda hoje. Aliviou o meu também com suas deleitosas obras e sua história de vida inspiradora.

Parabéns, Charles Dickens, pela missão cumprida! Não só a Inglaterra, o mundo festeja o bicentenário de sua vinda ao mundo.






sábado, 4 de fevereiro de 2012

Das Vantagens de Ser Bobo



Cada vez que formos iludidos pela insensibilidade alheia, que possamos olhar bem lá no fundo de nós mesmos e percebermos a graça de não estarmos na infeliz posição daquele que despreza. Nem por isso nos tornaremos vítimas, pois, embora haja algum sofrimento em ser ludibriado, em nossa ingenuidade, ganharemos sempre mais que todos os espertos; afinal, nada vale mais nesse mundo que a capacidade inerente aos bobos de amar e perdoar.
É como dizia minha querida amiga Lídia: "Hoje, dizem, o mundo é dos espertos. Daquele esperto que não compreende ter a capacidade evidente de ajuda ao outro, sem a consciência do proprio mérito."



Sabedoria de Clarice:
"O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo."

Clarice Lispector. Das Vantagens de Ser Bobo. In: Aprendendo a viver, EDITORA ROCCO, 2004, p. 166-8.






"O quadro feito pelo artista russo Marc Chagall, foi dado como presente de casamento para sua primeira namorada e seu grande amor. No quadro Vaca Amarela via-se ao centro uma vaca que para o artista judeu era o símbolo da vida. O amarelo simbolizava a alegria do momento íntimo e a criatividade que aflorava por estar verdadeiramente feliz ao se casar com sua grande musa."